Saiba mais sobre Esclerose Múltipla
É uma doença crônica, inflamatória, neurodegenerativa, que afeta o cérebro e a medula espinhal, em proporções variadas, sendo marcada por lesões na camada de mielina (substância composta por lipídios ou “gorduras” que protege os nervos/neurônios e facilita a condução do estímulo elétrico para o funcionamento normal do sistema nervoso).
A esclerose múltipla é marcada pelo desenvolvimento de ataques à mielina, realizados por células de defesa do próprio organismo, com destruição daquela camada de lipídios, processo que é denominado desmielinização. Esses múltiplos processos de desmielinização são seguidos por um tipo especial de cicatrização (chamado de esclerose), o que dá nome à doença.
Dados do National Institute of Neurological Disorders and Stroke (EUA) mostram que neste país existem em torno de 250.000-350.000 pessoas com o diagnóstico de esclerose múltipla.
A esclerose múltipla é mais comum em determinadas regiões do mundo, como norte dos EUA e Europa, Canadá, e sul da Austrália e Nova Zelândia, com aproximadamente 30 casos para cada 100.000 habitantes. Nessas regiões pode chegar a ser a principal causa de incapacidade física em adultos.
Inicia-se geralmente entre os 20-40 anos de idade, com a maioria dos casos ocorrendo em mulheres de origem caucasiana (branca).
A proporção de acometimento entre os gêneros feminino e masculino é de 2:1 (duas mulheres com a doença para cada homem com a patologia).
Pode acometer crianças, sendo atualmente uma das grandes preocupações dos médicos que trabalham com doenças neurológicas.
O que causa a esclerose múltipla?
- A exata causa da esclerose múltipla ainda não é conhecida, entretanto, alguns mecanismos são propostos:
- ataque de células inflamatórias do organismo contra as próprias células nervosas (camada de mielina): neste tipo de mecanismo, células inflamatórias iniciam o ataque à camada de mielina, inflamando-a e destruindo-a, levando aos déficits neurológicos conhecidos e à exposição do axônio dos neurônios.
- desmielinização: a destruição da camada de mielina dos neurônios resulta na dificuldade de propagação dos estímulos elétricos nessas estruturas, resultando nos déficits neurológicos.
- dano axonal: A estrutura do neurônio que é protegida pela camada de mielina é denominada de axônio (como se fosse o “tronco de uma árvore”), responsável pela transmissão dos impulsos nervosos e caso seja lesada, pode levar à atrofia do sistema nervoso, com sequelas irreversíveis.
Quais são os sinais e sintomas mais comuns da esclerose múltipla?
- Os sinais e sintomas da esclerose múltipla são determinados pela região do sistema nervoso central acometida, o grau de inflamação e pelo tamanho das lesões, sendo extremamente variáveis de pessoa para pessoa e até mesmo em surtos diferentes no mesmo paciente.
- Os mais frequentes são:
- déficit agudo de visão (geralmente com dor durante o movimento do olho ou dos olhos, se bilateral)
- fraqueza nos 4 membros (braços e pernas)
- fraqueza em um lado do corpo (p. ex. braço direito e perna direita)
- falta de coordenação para realizar os movimentos (p. ex. andar e abotoar uma camisa)
- dormência ou “formigamentos” em um lado do corpo
- dificuldade para controlar as evacuações ou as micções
O que são os chamados “surtos” da esclerose múltipla?
Os déficits neurológicos provocados pela esclerose múltipla que surgem/atingem o máximo de forma aguda (horas a poucos dias) e persistem por mais de 24 horas (um dia) são chamados de surtos de esclerose múltipla.
Quais são as formas de apresentação clínica da esclerose múltipla?
- Geralmente são utilizados alguns parâmetros para se classificar os tipos de esclerose múltipla, como: a frequência de ocorrência das crises de esclerose múltipla, se existem períodos de ausência de crises intercalados com os períodos de piora aguda, a existência de melhora espontânea dos sintomas (capacidade do cérebro de cicatrizar os danos provocados pela doença) e o acúmulo de déficits provocados pela doença.
- São basicamente 4 tipos de esclerose múltipla:
- Forma surto-remissão: forma mais comum da doença (representa 80-85% dos casos), caracterizada por períodos de pioras agudas (surtos-déficits neurológicos) intercalados por períodos de melhora desses déficits (remissão);
- Forma primariamente progressiva: forma pouco comum da doença (representa 10-15 % dos casos), marcada pela progressão lenta dos sintomas desde o início, sem períodos de piora aguda;
- Forma secundariamente progressiva: é a forma que aproximadamente metade dos casos do tipo surto-remissão atinge após 10 anos de evolução da doença, com progressão dos sintomas entre os surtos e diminuição da frequência destes;
- Forma primariamente progressiva com surtos: é extremamente rara, marcada pela evolução lenta e progressiva dos sintomas, com poucos surtos intercalados.
Como se diagnostica a esclerose múltipla?
- É necessário enfatizar que a esclerose múltipla não possui um exame único que indica a presença da doença, sendo preciso utilizar vários critérios diagnósticos em conjunto para se ter certeza da patologia.
- A história clínica e o exame físico acurados são as principais ferramentas que guiam o diagnóstico, com auxílio da Ressonância Magnética, da análise do líquido cefalorraquidiano (“líquido da espinha”) e do Potencial Evocado Visual (exame neurofisiológico que testa as estruturas neurológicas envolvidas na visão e que são afetadas frequentemente na esclerose múltipla).
O que seria a chamada Síndrome Clínica Isolada e qual a importância desse diagnóstico?
- Atualmente, uma grande preocupação dos neurologistas é diagnosticar a esclerose múltipla logo no início, para tratar e evitar a progressão dos déficits, dessa forma, o conceito de Síndrome Clínica Isolada envolve a ocorrência de apenas 1 surto clínico (com um ou mais déficits neurológicos ocorrendo simultaneamente), sem antecedentes de evento semelhante no passado.
- Após a constatação da Síndrome Clínica Isolada, é feita uma análise do risco da conversão desse surto em esclerose múltipla no futuro, sendo que caso a chance de desenvolver a doença seja alta, já inicia-se o tratamento.
Quais são outras doenças que podem ocorrer em conjunto com a esclerose múltipla?
- Depressão
- Ansiedade
- Distúrbios do sono
- Demência
- Dor crônica
- Fadiga crônica
- Espasticidade (“endurecimento” dos membros)
- Distúrbios sexuais
- Vertigem
Como se trata a esclerose múltipla?
- Existem basicamente dois tipos de tratamento: o agudo (tratamento dos surtos) e o profilático (evitar que ocorram os surtos).
- O tratamento agudo envolve o uso de medicamentos na veia (corticoides) para diminuir o grau de inflamação e acelerar a velocidade de recuperação.
- O tratamento profilático utiliza-se de outros medicamentos que visam modular (regular) e imunossuprimir (diminuir a atividade excessiva) o sistema imunológico. Atualmente, várias são as opções de tratamento profilático, sendo a escolha realizada de forma individualizada a depender das características dos pacientes e da forma clínica da doença.
Como é feito o tratamento das doenças associadas à esclerose múltipla?
- O tratamento é feito de forma multidisciplinar, com abordagem de vários profissionais, como fisioterapeutas, oftalmologistas, urologistas, ginecologistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicologistas, psiquiatras, dentre outros.
- O tratamento medicamentoso envolve a análise caso a caso, valorizando os sintomas específicos e as particularidades de cada paciente.
Qual é o prognóstico da esclerose múltipla?
- Felizmente, na maioria dos casos, a expectativa de vida dos indivíduos com a doença é semelhante à da população em geral.
- Após 25 anos do início da doença, aproximadamente 75 % dos pacientes conseguem se locomover sozinhos (conseguem andar sem auxílio de outras pessoas).
Existe algum fator que poderia evitar o desenvolvimento da esclerose múltipla?
No momento não há um mecanismo que possa ser utilizado para prevenir o desenvolvimento da doença, entretanto, à medida que avança o conhecimento acerca dos fatores causadores dessa patologia, aumenta a chance da descoberta de uma cura ou prevenção dessa afecção neurológica.