Principais dúvidas sobre Doença de Parkinson
É uma doença crônica, progressiva, neurodegenerativa, marcada por alterações nos movimentos voluntários e involuntários (parkinsonismo), além de outros sintomas não-motores (p. ex. diminuição do olfato ou capacidade de sentir os “cheiros”, depressão, constipação intestinal e alterações do padrão de sono). É explicada principalmente por uma alteração no cérebro dos pacientes, numa região específica chamada de substância negra (possui esse aspecto escurecido pela presença de um pigmento denominado neuromelanina), com degeneração dessa área, resultando em menor produção de dopamina (uma substância que possui como principal função o controle dos movimentos voluntários e involuntários).
Para que os sintomas motores da doença sejam clinicamente evidentes, é necessário que ocorra a degeneração (morte das células) de no mínimo 80 % da substância negra.
Inicia-se geralmente após os 60 anos de idade, com a minoria dos casos ocorrendo antes dos 30 anos de idade.
Acima dos 80 anos, a cada 20 pessoas sem a patologia, uma apresentará a doença de Parkinson.
Nos Estados Unidos, em torno de 60000 pessoas são diagnosticadas com a doença de Parkinson a cada ano.
Existe a predominância no sexo masculino, quando comparado ao feminino, numa proporção de 3 homens acometidos para cada duas mulheres acometidas pela doença.
O que é Parkinsonismo?
- Parkinsonismo é um conjunto de sinais e sintomas que lembram a doença de Parkinson idiopática mas que pode ser causado por outras patologias.
- Os sinais e sintomas são: bradicinesia (lentidão para realizar os movimentos), acinesia (incapacidade ou dificuldade para iniciar os movimentos), rigidez (“endurecimento dos braços e pernas”), postura fletida (cabeça, tronco, braços e joelhos desviados para a frente), alteração dos reflexos posturais (dificuldade para mudar o trajeto de marcha ou para se manter em pé quando surge uma dificuldade, como desviar-se de um objeto no chão ou um “escorregão”) e tremor de repouso (tremor das mãos, por exemplo, quando elas estão paradas em cima das pernas ou em repouso em cima de uma mesa).
O que significa o paciente apresentar parkinsonismo?
- Quem apresenta parkinsonismo pode ou não ter a doença de Parkinson. Vejamos os casos abaixo:
- Doença de Parkinson Idiopática: neste grupo encontram-se os pacientes que não foi possível identificar uma causa para os sintomas (p. ex. um “derrame”), por isso o nome “idiopática”. Podemos subdividir em dois conjuntos de indivíduos, aqueles com claro componente genético (início antes dos 40 anos de idade, de início precoce, com vários casos na família) e os com início acima dessa idade e sem clara herança genética (em muitas vezes sem nenhum outro familiar com a doença). O segundo grupo corresponde à 80 % dos casos da doença de Parkinson.
- Parkinsonismo secundário: são pacientes que possuem sintomas semelhantes à doença de Parkinson idiopática mas que se consegue identificar uma causa (p. ex. um “derrame”, traumatismo cerebral, uso de medicamentos, hidrocefalia, encefalite, intoxicações e tumores cerebrais).
- Parkinsonismo heredodegenerativo: são indivíduos que apresentam outras doenças degenerativas (p. ex. doença de Huntington e doença de Wilson) que podem cursar com sintomas semelhantes à doença de Parkinson idiopática.
- Parkinsonismo atípico: são pacientes que apresentam outras doenças (p. ex. atrofia de múltiplos sistemas, paralisia supranuclear progressiva, degeneração córticobasal, demência frontotemporal e demência por corpos de Lewy) que podem ter sintomas semelhantes à doença de Parkinson idiopática mas que cursam com sinais/sintomas que não são comuns nesta patologia.
O que significa parkinsonismo atípico?
São sinais e sintomas que se parecem com o parkinsonismo, mas que são atípicos, ou seja, possuem características diferentes daquelas encontradas na doença de Parkinson, pois esta é bem conhecida e apresenta uma evolução claramente definida. Quando essa evolução é atípica (diferente ou “estranha”), deve-se questionar o diagnóstico de doença de Parkinson e procurar outras que possam estar implicadas (atrofia de múltiplos sistemas, paralisia supranuclear progressiva, degeneração córticobasal, demência frontotemporal e demência por corpos de Lewy).
O que causa a doença de Parkinson?
- A principal alteração é a degeneração da substância negra, com diminuição da produção de dopamina, um neurotransmissor que está envolvido no controle do movimento e de outras funções como a velocidade de pensamento. Sabe-se que existe a participação da genética e de fatores do ambiente externo (exposição a toxinas ambientais, trauma e infecções) que quando interagem podem levar à doença de Parkinson.
- Claramente o único fator identificado é a idade, que quanto mais idoso o indivíduo, maior a chance de ter a doença, principalmente após os 80 anos de idade.
Quais são os sintomas e sinais não-motores que podem acontecer na doença de Parkinson?
- Alterações na personalidade (irritabilidade, apatia, ansiedade, isolamento social e medo excessivo)
- Demência
- Diminuição do olfato ou da capacidade de sentir os “cheiros”
- Constipação intestinal
- Disfunção sexual
- Distúrbios do sono
- Depressão
- Fadiga, perda de peso e seborreia (alteração da secreção de algumas glândulas sebáceas, deixando a pele mais oleosa)
- Dor crônica
Quais são outras doenças que podem ocorrer em conjunto com a doença de Parkinson?
- Depressão
- Ansiedade
- Distúrbios do sono
- Demência
- Dor crônica
Como se diagnostica a doença de Parkinson?
O melhor método de se diagnosticar o parkinsonismo é a realização de uma boa anamnese (história clínica) aliada a um exame físico preciso. Entretanto, como exposto anteriormente, nem sempre o parkinsonismo corresponde à doença de Parkinson, o que na prática clínica gera a necessidade de solicitar exames de imagem para afastar outras condições que possam ser parecidas com a doença de Parkinson.
Como se trata a doença de Parkinson?
- Existem basicamente dois tipos de tratamento: o farmacológico e o não farmacológico.
- O tratamento farmacológico envolve o uso de medicamentos. Visa apenas o controle dos sintomas, uma vez que não é capaz de interromper a progressão da doença. As principais drogas são aquelas que proporcionam o aumento de dopamina no organismo dos doentes, como a levodopa, os agonistas dopaminérgicos (p. ex. pramipexol) e os que aumentam a liberação de dopamina pelo organismo (p. ex. amantadina). Outras classes são: inibidores da monoaminaoxidase (MAO) e anticolinérgicos (em desuso).
- O tratamento não farmacológico utiliza-se de outros métodos que não o uso de medicamentos. Alguns dos sintomas não respondem aos medicamentos de forma adequada (como a marcha e os sintomas não motores) o que requer a abordagem por equipe multidisciplinar (psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiologistas, terapeutas ocupacionais, urologistas, dermatologistas, nutricionistas, psiquiatras e outros especialistas em casos específicos).
O que seria o tratamento cirúrgico para a doença de Parkinson?
- Nos últimos 10 anos houve um significativo desenvolvimento das técnicas cirúrgicas para o tratamento da doença de Parkinson, o que resultou em mais uma interessante ferramenta para o tratamento dessa enfermidade desafiadora e cada vez mais comum na população.
- Existem basicamente duas abordagens cirúrgicas: a lesional e a estimulação cerebral profunda ou o termo em inglês (Deep Brain Stimulation-DBS).
- Lesional: nessa técnica é realizada uma lesão cirúrgica em regiões que são responsáveis pelos sintomas motores da doença de Parkinson, sendo irreversível. Quando bem indicada ainda encontra respaldo na literatura médica e é uma ferramenta a mais para o tratamento.
- Estimulação cerebral profunda: é a técnica mais utilizada na atualidade, podendo ser descrita de forma análoga ao marca-passo cardíaco, uma vez que são colocados eletrodos em regiões do cérebro que são responsáveis por controlar os movimentos, com estimulação elétrica dessas áreas. Realiza-se a implantação do gerador de impulsos elétricos na região do tórax, abaixo da pele (assim como no marca-passo cardíaco). É possível ajustar esse aparelho durante as consultas, para se chegar a uma regulagem individualizada para cada paciente. Necessita da disponibilidade de equipe treinada (neurocirurgiões, enfermeiros, instrumentadores, físicos médicos e de informática) e estrutura física adequada (hospital e materiais). É necessário dizer que existe a obrigação da troca da bateria do gerador em determinados períodos (varia entre os modelos existentes).
A terapêutica cirúrgica está indicada para todos os pacientes?
- Não. É necessário ter a certeza de se tratar de doença de Parkinson, o que é realizado pelo neurologista. Além do mais, mesmo os pacientes com diagnóstico confirmado da doença de Parkinson precisam ser adequadamente selecionados, com indicações e contraindicações específicas para o procedimento (tempo de início dos sintomas, condições psiquiátricas, reposta à levodopa, presença ou não de demência, presença de complicações do tratamento medicamentoso, presença de doenças associadas).
- Essa etapa de indicação cirúrgica também é feita com a disponibilidade de equipe multidisciplinar.
- Para cada grupo de sintomas (tremor, rigidez, bradicinesia e distúrbios da marcha) existe um alvo preferencial no cérebro para a colocação dos eletrodos
Como é realizado o tratamento dos sintomas não-motores?
O tratamento dos sintomas não-motores é individualizado, a depender das características de cada paciente.
Existe algum fator que poderia evitar o desenvolvimento da doença de Parkinson?
- Alguns estudos mostram que a ingestão diária de duas a três xícaras de café por dia pode ter algum benefício. Em relação ao café, duas são as possíveis explicações: em primeiro lugar, a cafeína presente na bebida pode melhorar momentaneamente os sintomas do parkinsonismo e em segundo lugar, outras substâncias com provável efeito “antioxidante”, presentes no café, poderiam estar associadas à modificação do risco de desenvolver a doença.
- No momento não há certeza para se indicar o uso do café para todos os pacientes com a doença de Parkinson e também para os indivíduos saudáveis.
- Evitar a exposição a toxinas como a MTPT (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetraidropiridina), presente em alguns herbicidas.