Dúvidas

Principais dúvidas sobre Dença de Alzheimer

O que é a doença de Alzheimer?

  • Doença de Alzheimer é a patologia degenerativa do Sistema Nervoso mais frequentemente associada à idade (afeta aproximadamente 10% dos indivíduos com idade superior a 65 anos e até 40% dos que possuem mais de 80 anos), caracterizada clinicamente por demência e com achados característicos em análise de cérebros de pacientes com a doença.
  • Foi descrita pela primeira vez em 1907 pelo médico alemão Alois Alzheimer.
  • É a principal causa de demência no Brasil.
  • Estima-se que em 2050 em torno de 135 milhões de pessoas terão a doença de Alzheimer no mundo e que serão gastos mais de 1 trilhão de dólares no manejo da doença (no mundo).

O que significa Síndrome Demencial ou Demência?

Síndrome Demencial ou Demência significa o declínio em duas ou mais funções cognitivas (geralmente inicia-se com déficit de memória) de instalação progressiva e com acometimento das atividades de vida diária (p. ex. higiene pessoal, ato de cozinhar, lavar roupa, pagar contas e lidar com dinheiro, lembrar recados, lembrar de tomar medicações e lembrar compromissos), além de atividades sociais (geralmente evita contato social com medo de constrangimento) e profissionais (desempenho no trabalho).

Quais seriam as outras funções cognitivas afetadas pela doença?

  1. Linguagem: geralmente os pacientes iniciam com dificuldades de lembrar algumas palavras, principalmente aquelas menos utilizadas e mais difíceis, progredindo para aquelas mais fáceis e comuns, como os nomes de instrumentos (pode esquecer o nome de um pente e dizer que serve para usar no cabelo) e em estágios mais avançados, até esquecer nomes de familiares próximos e finalmente não conseguir se comunicar.
  2. Orientação Visuoespacial: o paciente pode esquecer uma rota usada constantemente (p. ex. perder-se no percurso do trabalho para casa) e com o avançar da doença pode não conseguir se orientar dentro da própria casa.
  3. Função executiva: pode apresentar dificuldades para tomar decisões que antes eram acertadas (p. ex. comprar um carro ou vendê-lo por valores fora da realidade; não conseguir planejar a realização das etapas de uma refeição, dentre outras atividades).
  4. Comportamento: é comum a doença de Alzheimer ser precedida de depressão ou alterações psiquiátricas como ansiedade e irritabilidade, ainda mais que no início da doença o paciente tem ciência do declínio cognitivo e sente-se frustrado com o fato.

Quais seriam as alterações patológicas nos cérebros dos pacientes com a doença de Alzheimer?

Sabe-se que o cérebro humano possui a capacidade de eliminar substâncias consideradas “tóxicas” para os neurônios, como alguns tipos de proteínas. Geralmente o aumento dessas proteínas ou a dificuldade em eliminá-las resulta no acúmulo delas nos neurônios, com morte dessas estruturas e atrofia do cérebro.

Todo esquecimento é doença de Alzheimer?

Não. Nem todo esquecimento é doença de Alzheimer e podemos citar algumas causas comuns, principalmente em pacientes jovens:

  1. Depressão (pacientes deprimidos podem ter dificuldade para prestar atenção nas informações e depois não conseguir lembrá-las);
  2. Síndrome da apneia/hipopnéia obstrutiva do sono (roncos com dificuldade para respirar durante o sono, com sono não reparador e dificuldade para lembrar e gravar informações);
  3. Doenças da Tireóide (é comum o paciente com hipotireoidismo ter lentificação no pensamento com dificuldade para lembrar informações cotidianas);
  4. Deficiência de Vitaminas (a deficiência de vitamina B12 e Ácido fólico podem culminar em alterações da memória e da função executiva);
  5. Infecções (doenças infecciosas como a Sífilis e Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida-AIDS podem resultar em alterações da memória e outros domínios cognitivos);

A doença de Alzheimer faz parte do envelhecimento normal?

Não. O envelhecimento normal pode levar a graus leves de lentidão da velocidade de pensamento, como por exemplo, demorar um pouco para lembrar o número de um telefone, sem contudo errar o mesmo.

Como é feito o diagnóstico da doença de Alzheimer?

  • O diagnóstico é feito pela consulta com o médico neurologista, pois não existe um exame complementar (tomografia ou ressonância) capaz de dizer com certeza se existe ou não a doença.
  • Durante a entrevista com o médico o paciente e, principalmente os familiares, são questionados sobre os esquecimentos e demais áreas da cognição (vide texto acima), sendo realizado o exame neurológico com aplicação de testes cognitivos para detectar a síndrome demencial.

É necessário realizar exames complementares para o diagnóstico da doença de Alzheimer?

Sim. Pelo fato de várias patologias comuns poderem simular a doença de Alzheimer, é necessário solicitar alguns exames de sangue e no mínimo um exame de imagem (Tomografia ou Ressonância Magnética de crânio).

Qual é o tratamento para a doença de Alzheimer?

O tratamento baseia-se em duas classes de medicamentos: os que agem aumentando o nível de acetilcolina (substância produzida pelos neurônios saudáveis e que está envolvida no processo de memória) e aqueles que atuam no glutamato (função semelhante à acetilcolina na formação da memória).

Existem indicações formais para os referidos medicamentos e só podem ser utilizados e comprados com receita médica.

O tratamento consegue interromper a progressão da doença e promover a cura?

Não. Infelizmente ainda não existe a cura para a doença de Alzheimer, entretanto, o tratamento atual consegue “voltar o relógio no tempo em 1 ano”, ou seja, o paciente pode voltar a ter o mesmo desempenho cognitivo (memória, por exemplo) de 1 ano antes do início do tratamento medicamentoso.

Atualmente, a busca pela cura tem envolvido grande investimento financeiro em pesquisas, seja pela iniciativa privada ou por instituições públicas, e, possivelmente, veremos nos próximos anos algum medicamento capaz de interromper ou lentificar o curso da doença.

Existe algum fator que evita o aparecimento da doença de Alzheimer?

Fator de risco é uma característica que quando presente pode aumentar o risco de se desenvolver uma doença (aumenta o risco de se ter a doença).

Basicamente, existem dois tipos de fatores de risco para a doença de Alzheimer: os modificáveis (aqueles que podem ser evitados ou tratados) e os não modificáveis (aqueles que não podem ser evitados ou tratados).

1) Não modificáveis 

  • Idade
  • Carga genética

2) Modificáveis

  • Nível de escolaridade
  • Hipertensão Arterial Sistêmica
  • Diabetes melito
  • Obesidade
  • Dislipidemia (alterações do colesterol)
  • Sedentarismo
  • Dieta
  • Tabagismo

Sabe-se que pacientes que possuem alto nível de escolaridade (mais de 11-12 anos de estudo formal) possuem menor chance de desenvolver a doença. Dessa forma, nunca é tarde para iniciar um hábito de leitura ou outra atividade cognitiva como aprender um idioma estrangeiro, fazer faculdade, pintar quadros ou desenhar.

Recentemente, grande atenção tem sido dada em relação a alguns fatores modificáveis que poderiam estar relacionados ao desenvolvimento da doença de Alzheimer (Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes melito, Obesidade, Dislipidemia, Sedentarismo e Tabagismo) e, caso sejam tratados ou prevenidos, poderia ser diminuído o risco de se ter a referida doença. Além disso, esses fatores também estão relacionados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares (p. ex. infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca) e cerebrovasculares (p. ex. acidente vascular cerebral), o que torna de extrema importância o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento.

Outro ponto importante é que alguns fatores de risco podem interagir entre si, levando ao aumento do risco de se desenvolver a demência (p. ex. a obesidade pode levar ao desenvolvimento de diabetes e hipertensão arterial; o tabagismo aumenta o risco de demência, acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio).

A adoção de uma dieta saudável (p. ex. dieta do Mediterrâneo), composta por frutas, vegetais, legumes, peixes e carboidratos complexos, pode agir na prevenção de várias doenças, como a Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes melito, Obesidade e Dislipidemia. Dessa forma, de maneira indireta, pode-se diminuir o risco do desenvolvimento de demência e de forma direta o risco de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.

Ressalta-se a tendência do aumento da frequência da doença de Alzheimer em países em desenvolvimento (p. ex. Brasil, Nigéria e Índia), justamente pela falha na prevenção e tratamento dos fatores modificáveis. Ao contrário, em países desenvolvidos (p. ex. Japão, Suécia e Finlândia) a frequência da doença de Alzheimer tende a estabilizar ou diminuir, pela eficácia nas medidas de saúde pública adotadas nessas regiões do mundo.

Qual o impacto de se ter boas medidas de saúde pública na prevenção e tratamento dos fatores de risco modificáveis?

  1. Caso se diminua em 10% a ocorrência desses fatores modificáveis, estima-se uma diminuição de 8,3% na frequência de demência;
  2. Pacientes com diabetes melito apresentam aproximadamente 40% mais chance de desenvolver a demência
  3. A presença de sobrepeso ou obesidade pode elevar em duas vezes a chance de se desenvolver a demência
  4. O tabagismo (hábito de fumar) pode aumentar em até 50% o risco de se desenvolver a demência (mais estudos são necessários) e caso o hábito seja interrompido, após 5 anos dessa parada, os ex-fumantes possuem um risco aproximado da população que nunca fumou
  5. A realização de atividade física regular (frequência mínima de 3 vezes por semana, com duração de 30-40 minutos, de exercícios aeróbicos, como caminhada, hidroginástica e natação) pode diminuir em torno de 50% a chance de se desenvolver a demência
  6. Alto nível de escolaridade diminui o risco de se desenvolver a doença em torno de 40% (além de contribuir sobremaneira no desenvolvimento social)

Por fim, é incontestável a adoção de medidas de saúde pública e de educação (escolaridade) que visem controlar/evitar fatores de risco que são responsáveis por patologias tão impactantes na sociedade, como a doença de Alzheimer, acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio.

A principal mensagem que fica é: “O que faz bem para o seu coração também é bom para o seu cérebro”.

Quais seriam as principais dicas para os familiares e cuidadores dos pacientes com doença de Alzheimer?

  1. Discuta com todos os familiares como será feita a divisão de tarefas:
    - quem acompanhará o paciente em consultas médicas;
    - com quem o paciente irá residir;
    - custos de tratamento e outras despesas como vestimentas, por exemplo.
  2. Tratar o paciente com carinho e sempre discutir as decisões que ele possa participar;
  3. Continuar a levar o paciente em atividades que antes eram prazerosas, como ir à praia e caminhar em parques (a atividade física é um importante fator que melhora a qualidade de vida dos pacientes, além de prevenir outras doenças como o infarto agudo do miocárdio (coração) e melhorar o processo de memorização;
  4. Incentivar a memória mostrando álbuns de família com fotos das mais variadas épocas, bem como a leitura de jornais e revistas atuais;
  5. Estimular o contato com plantas (jardins) e animais domésticos, sempre de forma supervisionada;
  6. Manter horários regulares das refeições, de preferência a cada três horas, sempre com dieta variada e balanceada;
  7. Evitar situações embaraçosas para o paciente, como aquelas em que ele tenha que fazer discursos em público e possa esquecer de fatos e informações, o que poderia deixa-lo exposto;
  8. Jamais o paciente pode sair de casa sozinho, pois como foi dito anteriormente, ele pode perder-se na rua ou ficar vulnerável a atropelamentos;
  9. É importante que o cuidador administre os medicamentos na hora certa pois o paciente pode esquecer de tomar os remédios. Além disso, em fases mais avançadas da doença o paciente pode necessitar de ajuda para alimentar-se, vestir-se, tomar banho e até mesmo escovar os dentes;
  10. Adaptar o ambiente domiciliar, como retirar escadas e construir rampas, evitar a presença de pisos escorregadios e objetos pontiagudos na decoração, pois quedas são comuns e poderiam levar a traumatismos cranianos e fratura de fêmur, por exemplo.

Finalmente, é preciso cuidar de quem cuida: frequentemente o cuidador encontra-se esgotado física e mentalmente, o que pode predispor a quadros depressivos e transferir sentimentos desagradáveis para o próprio paciente, além de diminuir a capacidade de lidar com situações que causem o mínimo estresse (pode ficar irritado com o fato do paciente derrubar a comida no chão, por exemplo). Nesse sentido, faz-se necessário o acompanhamento com profissionais de saúde ao se constatar os mínimos sinais de cansaço e esgotamento, além de sempre tirar as dúvidas durante as consultas com o neurologista.

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