Dúvidas

Acidente Vascular Cerebral (“Derrame” ou AVC):

É a principal causa de mortes no Brasil, seguida pelo infarto agudo do miocárdio.

É uma das principais causas de incapacidade física, pois aqueles pacientes que sobrevivem podem apresentar vários graus de dificuldade para desempenhar as atividades cotidianas (andar, vestir, alimentar, tomar banho, falar, enxergar, dentre outras), de acordo com a região do cérebro acometida, do tamanho do AVC e das características do indivíduo (alguns pacientes são mais resistentes à isquemia).

Aproximadamente 600.000 acidentes vasculares cerebrais acontecem nos Estados Unidos a cada ano, sendo que 150.000 levam ao óbito (25 % dos casos).

Acomete o sexo masculino e o feminino nas mesmas proporções.

O que é o AVC?

  • É uma doença súbita, marcada por diminuição da força muscular (geralmente em um dos lados do corpo, incluindo a face, o braço e perna), diminuição da sensibilidade em um dos lados do corpo (“dormência” na face, braço e perna), alterações na fala ou linguagem (dificuldade para articular as palavras, para entendê-las e/ou pronunciá-las), déficit de visão; dificuldade para perceber um lado do corpo ou do ambiente (chamada de hemi-extinção, situação na qual o paciente pode nem perceber que um lado do corpo é dele ou deixar de fazer a barba em um lado do rosto, por exemplo), além de outros sintomas como dificuldade na coordenação dos movimentos, tontura ou vertigem; dificuldade para engolir os alimentos, dor de cabeça e até mesmo o coma.
  • A depender da região do cérebro acometida e do tipo de AVC, esses sintomas variam e, raramente, apresentam todos os achados descritos anteriormente.

O que causa o AVC?

  • É explicada principalmente por uma alteração no cérebro dos pacientes, decorrente da falta de circulação sanguínea numa região específica, irrigada por um vaso sanguíneo (veia ou artéria), que pode ocorrer pela presença de um trombo (obstrução do vaso sanguíneo, causada por uma “placa de gordura”, conhecida cientificamente por aterosclerose); pela degeneração de um vaso (decorrente do envelhecimento, hipertensão arterial sistêmica, diabetes e tabagismo, chamada de lipohialinólise) ou por um “coagulo” (p. ex. formado no coração, se desprende desse órgão, sobe pela circulação e vai parar em um vaso do cérebro, obstruindo-o).
  • Esses tipos de mecanismos causam basicamente o chamado AVC isquêmico (por falta de circulação sanguínea).
  • Outro tipo de AVC é aquele que ocorre quando existe a ruptura de um vaso sanguíneo com extravasamento (“vazamento”) de sangue para o cérebro, chamado de AVC hemorrágico.
  • Existem diversas outras causas de AVC, que fogem o objetivo desse texto, devendo-se pesquisar a depender das peculiaridades de cada caso.

Quais são os tipos de AVC?

Existem basicamente 2 tipos de AVC: o isquêmico e o hemorrágico.

AVC isquêmico

  • Representa 80 % de todos os casos de AVC.
  • Pode acontecer em grandes artérias, médias artérias e pequenas artérias. Em regra, quanto maior a artéria, mais grave o déficit que o paciente apresentará.
  • Felizmente, 20% dos AVCs isquêmicos são os chamados “lacunares”, ou pequenos (em torno de 1-1,5 cm de extensão), que ocorrem devido à obstrução de “arteríolas” (as menores artérias que transportam sangue para os tecidos), geralmente associado à hipertensão arterial sistêmica, que leva a alterações degenerativas nesses vasos sanguíneos.
  • Em torno de 20-30 % dos casos são devidos à formação de “coágulos” no coração, em decorrência de arritmias cardíacas (fibrilação arterial) e/ou devido a vários tipos de alterações estruturais cardíacas (p. ex. degeneração de válvulas cardíacas, sequelas de infartos do miocárdio e infecções no coração), que se soltam do coração e são transportados para a circulação cerebral onde vão levar ao déficit de sangue para o cérebro, com infarto do tecido (necrose ou morte das células).
  • Outra causa de AVC isquêmico que merece destaque é a oclusão de uma artéria pela formação de uma placa de “gordura” nessa estrutura, com crescimento progressivo. Além disso, um “pedaço” dessa placa pode soltar-se e ser transportada para outra artéria do cérebro, causando um AVC em outro local à distância.

AVC hemorrágico

  • Representa em torno de 20 % de todos os casos de AVC.
  • Existem basicamente dois tipos de AVC hemorrágico, o intraparenquimatoso (o sangue escapa para dentro do tecido cerebral) e o subaracnóideo (o sangue escapa para dentro do espaço subaracnóideo, onde fica o líquido cefalorraquidiano, entre duas “capas” de tecido que protegem o cérebro).
  • O AVC intraparenquimatoso ocorre devido à ruptura de um vaso (artéria ou veia) que leva ao “vazamento” de sangue para dentro do tecido cerebral, desencadeando uma série de eventos tóxicos para o cérebro. A principal causa da ruptura do vaso sanguíneo é a Hipertensão Arterial Sistêmica não controlada.
  • O AVC por hemorragia subaracnóidea ocorre em decorrência geralmente da ruptura de aneurismas cerebrais, de traumatismo intracraniano, pelo uso de drogas (cocaína, por exemplo) ou outros tipos de malformações dos vasos sanguíneos cerebrais.

Existem outras causas de AVC?

  • Em até 30 % dos casos não é possível identificar as causas dos AVCs, sendo denominados de “criptogênicos” (ou “escondidos”, “desconhecidos”).
  • Causas menos frequentes são: hereditárias (deficiências no sistema de coagulação do sangue, malformações arteriais e venosas do cérebro; doenças do colágeno, como doença de Marfan; Displasia Fibromuscular, doença de Fabry, CADASIL e CARASIL), trombose de veias e seios venosos cerebrais (secundária a infecção, desidratação grave, uso de medicamentos como anticoncepcionais orais combinados e deficiências hereditárias no sistema de coagulação do sangue ), Vasculites Cerebrais (inflamação dos vasos sanguíneos cerebrais) e neoplasias/tumores cerebrais (linfoma).

Quais são os principais fatores de risco para o AVC?

Diversos fatores podem levar ao desenvolvimento de um AVC (chamados de fatores de risco, pois quando presentes podem levar ao aumento da chance de ocorrer um AVC). Alguns não são evitáveis, como a idade e herança genética, mas a maioria é evitável/tratável como as alterações de colesterol, a obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial sistêmica (mesmo que não se possa evitar a doença, pode-se tratá-la e prevenir o AVC), tabagismo, apneia obstrutiva do sono, ateromatose carotídea (“placas de gordura” nas artérias carótidas-pescoço), o uso de anticoncepcionais orais combinados (contendo estrógenos e progestágenos), o uso abusivo de álcool, diabetes e fibrilação atrial (arritmia cardíaca).

Quais são os sintomas e sinais que podem acontecer no AVC?

  • Diminuição de força muscular (fraqueza) súbita em um lado do corpo ou até mesmo nos dois lados do corpo
  • Diminuição da sensibilidade em um lado do corpo ou até mesmo nos dois lados do corpo
  • Dificuldade súbita para falar ou entender o que as outras pessoas estão falando
  • Déficit súbito de visão (cegueira em um ou nos dois olhos)
  • Visão dupla (enxergar um objeto como se fossem dois objetos simultaneamente)
  • Dificuldade súbita para andar
  • Déficit súbito para coordenar os movimentos
  • Dor de cabeça súbita (que atinge o máximo da dor em até um minuto), ou a “dor de cabeça mais forte da vida”
  • Crise convulsiva

Quais são outras doenças que podem ocorrer em conjunto com o AVC?

  • Depressão
  • Ansiedade
  • Distúrbios do sono
  • Demência
  • Dor crônica
  • Espasticidade (“endurecimento” de uma ou mais partes do corpo)
  • Distúrbios de movimento (p. ex. Coreia, balismo ou parkinsonismo)

Como se diagnostica o AVC?

O melhor método de se diagnosticar o AVC é a realização de uma boa anamnese (história clínica) aliada a um exame físico preciso. Entretanto, o início dos sintomas na maioria das vezes é percebido por familiares ou pessoas que estejam próximas dos indivíduos acometidos. Na suspeita do diagnóstico é obrigatória a realização de exames de imagem (Tomografia e/ou Ressonância Magnética), para confirmação e planejamento do tratamento, além de descartar a presença de Ataque Isquêmico Transitório (AIT).

O que seria o Ataque Isquêmico Transitório (AIT)?

O AIT é uma doença que possui os mesmos sintomas do AVC, entretanto, não chega a levar ao infarto do tecido cerebral (necrose ou morte das células), sendo, então, reversível (não deixa sequelas ao exame físico e não mostra alterações nos exames de imagem compatíveis com infarto do tecido).

Qual a importância de se diagnosticar o AIT?

  • Aproximadamente 10 % dos pacientes que apresentam AVC também cursam com AIT precedendo o AVC em dias, semanas ou meses.
  • Aproximadamente 40 % dos pacientes com AIT irão apresentar AVC.
  • Dessa forma, todos os pacientes com AIT devem ser investigados com urgência para se evitar o desenvolvimento de um AVC. Podemos então, interpretar o AIT como um “alarme” do cérebro para a ocorrência de uma alteração nos vasos sanguíneos que podem levar a um AVC.

Qual a importância de se diagnosticar rapidamente o AVC?

Existe um aforisma importante em neurologia: “Tempo é cérebro”. Ou seja, quanto mais cedo se diagnosticar e tratar um AVC, mais tecido cerebral é possível salvar.

O que significa a chamada “Cadeia de Sobrevivência” dos pacientes com AVC?

A Cadeia de Sobrevivência dos pacientes com AVC significa um conjunto de ações que devem ser realizadas para se chegar ao tratamento específico da forma mais rápida e efetiva possível.

Quais são os elos da “Cadeia de Sobrevivência” dos pacientes com AVC?

  1. Detecção: detecção dos sintomas e sinais do AVC;
  2. Contato: telefonar para o número 192, Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (SAMU), para iniciar o atendimento e transporte do paciente;
  3. Transporte: rápido transporte do paciente e contato entre o SAMU e o hospital que o paciente será levado;
  4. Porta: efetiva triagem na chegada do paciente no hospital de destino;
  5. Dados: avaliação médica com coleta da história clínica direcionada, realização de exames gerais e Tomografia/Ressonância Magnética;
  6. Decisão: diagnóstico e decisão sobre o tratamento específico;
  7. Tratamento: administração do tratamento específico e outras abordagens terapêuticas que possam ser necessárias.

Como é realizado o tratamento do AVC?

Em 1996, uma das maiores revoluções no tratamento de doenças neurológicas aconteceu, após a liberação nos Estados Unidos da chamada “Terapia Trombolítica”, ou seja, da administração de uma medicação específica (fator ativador de plasminogênio tecidual recombinante-rTPA) na veia dos indivíduos acometidos por AVC, que resultaria na desobstrução do vaso (“desentupimento”) com melhora dos sintomas, diminuição da incapacidade física e até mesmo evitando-se o óbito. À partir de 2001 essa terapia foi introduzida no Brasil e hoje encontra-se em processo de expansão.

Todos os pacientes podem ser submetidos à terapia trombolítica?

Não. Existe um tempo ideal à partir do início dos sintomas para que o medicamento seja administrado. Na maioria dos casos esse tempo é de até 4 horas e meia após o início dos sintomas, sendo, em casos específicos, aceito até 6 horas. Além disso, condições específicas de cada paciente são levadas em conta na hora da decisão médica sobre o tratamento.

Como prevenir a ocorrência de um AVC?

  • A prevenção é um conjunto de medidas realizadas para se evitar a ocorrência de um episódio de AVC pela primeira vez ou que aconteça novamente naqueles pacientes que já foram acometidos pelo menos uma vez pela doença (nesse caso, esse conjunto de medidas já inicia-se ao diagnóstico do AVC).
  • Engloba medidas não farmacológicas e farmacológicas.
  • As não farmacológicas principais são: a mudança do estilo de vida (praticar exercícios físicos de forma moderada, de preferência aeróbicos, como caminhada), estabelecer uma boa higiene do sono, hábitos alimentares saudáveis (dieta balanceada e com horários regulares das refeições), controle do peso corporal, manejo do estresse (yoga e meditação), interromper ou moderar o uso de bebidas alcoólicas, interromper o tabagismo, tratar a apneia do sono quando presente e fazer acompanhamento médico regular.
  • As farmacológicas envolvem medicamentos, como aqueles para diminuir a formação de placas de gordura ou estabilizá-las (evitar que os vasos sanguíneos se fechem ou que “pedaços” dessa placa se soltem e obstruam vasos sanguíneos à distância), melhorar a coagulação sanguínea (diminuir a formação de “trombos” ou coágulos), controlar o diabetes, a pressão arterial, o colesterol e facilitar o abandono do hábito de fumar.
  • Outras medidas são indicadas em casos específicos: cirurgia para a retirada de “placas de gordura” nas artérias, colocação de “stent” (objeto metálico que abre a artéria, semelhante ao colocado nas artérias do coração) nas artérias, “cateterismo” com a retirada do “trombo ou coágulo” da artéria e até mesmo a realização de cirurgia cardíaca em casos selecionados (quando esse órgão for a causa do AVC e que exista a lesão com possibilidade cirúrgica, como a troca de válvulas cardíacas).
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